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João Felippe Cury Marinho Mathias

Introdução

É amplamente reconhecido na literatura que o agronegócio é um dos setores mais dinâmicos da Economia Brasileira, com notável evolução nas décadas recentes. Há fatores de diversas naturezas para explicar esse dinamismo, mas se reconhece que o segmento primário (agropecuária), em função do elevado crescimento da produtividade, tem sido a atividade chave para o desenvolvimento do agronegócio do Brasil.

O curioso é que nem sempre foi assim. Tido como tradicional e refratário às inovações, o setor agropecuário teve, a partir dos anos 1970, uma inflexão no que tange ao uso de tecnologia e os crescentes índices de produtividade, que somadas às condições macroeconômicas nas décadas de 1990 e 2000 permitiram um aumento expressivo na produção e exportação de produtos oriundos do agronegócio. Alguns produtos em destaque são os provenientes do complexo das carnes e da soja.

Vários autores apontam o expressivo crescimento da produtividade agropecuária, tanto do trabalho como a do capital e da terra. As taxas são expressivas desde os anos 1970, mas encontram sua maior magnitude nos anos 2000. Aqui, os fatores macroeconômicos como preços das commodities e câmbio, somado a um intenso crescimento da demanda externa, sugerem ser os principais fatores motivadores para o elevado dinamismo e os crescentes acréscimos de produtividade do agronegócio em geral, e da agropecuária, em particular.
Como já salientado, no Brasil, tem-se uma forte transformação do setor agropecuário baseado no crescimento desta produtividade, o que identifica um processo de mudança tecnológica em curso, gerando crescimento produtivo e eficiência alocativa dos recursos. Houve a modernização de vários segmentos, os quais foram capazes de incorporar as mudanças tecnológicas ao longo do tempo.
Cabe, então, investigar as causas dos aumentos da produtividade agropecuária no Brasil. O trabalho sugere que, impulsionado pela demanda externa, o setor agroexportador respondeu de maneira mais acentuada que as condições macroeconômicas que influenciaram a rentabilidade da produção no período. E, nesse sentido, alguns fatores de ordem institucional foram muito importantes, com especial destaque para o papel da EMBRAPA. Com efeito, pode-se dizer que a evolução do segmento agropecuário observou um crescimento “voltado para fora”.

O foco deste trabalho será a análise da agropecuária em função da ideia de que o fomento da produção agropecuária gera efeitos de transbordamento para os setores fornecedores de insumos tecnológicos, bem como para a industrialização e a comercialização de seus bens. Nesse sentido, um moderno setor agropecuário é aquele capaz de desenvolver inovação tecnológica e estimular a produção científica e de tecnologia na cadeia produtiva como um todo (Vieira Filho et al., 2011).

Com efeito, este capítulo tem por objetivo analisar a evolução do agronegócio brasileiro desde os anos 1980, com particular foco no segmento primário (agropecuário). O trabalho se baseia no uso de dados primários e secundários oriundos dos últimos censos agropecuários de 1980 a 2006, com particular ênfase neste último. Em termos específicos terão consideração adicional alguns produtos importantes para o agronegócio brasileiro, buscando verificar os condicionantes macroeconômicos, tais como câmbio e preços, que influenciaram os mesmos no que tange à rentabilidade. Os produtos considerados são a carne bovina e de frango, a soja, o açúcar, o algodão e o milho.
Neste estudo, trabalha-se com a hipótese de que a evolução da oferta de produtos agropecuários é fortemente caracterizada pelo aumento das inovações e da produtividade, que respondem aos estímulos da demanda externa e macroeconômicos. As inovações visam, de um lado, aumentar a produtividade agrícola e, de outro, reduzir os custos produtivos. Quando se atinge um grau de modernização elevado,o produtor aumenta sua margem de lucro, via aumento da produtividade, e diminui seus custos, por unidade de capital.
O capítulo está estruturado em mais três seções. A próxima seção mostra brevemente o marco conceitual referente ao agronegócio e um breve estado da arte no Brasil. A seção três apresenta os condicionantes institucionais e macroeconômicos da evolução do agronegócio brasileiro. A seguir é apresentado o núcleo central do capítulo: a evolução da produtividade da atividade agropecuária no Brasil. Finalmente são apresentadas as conclusões.

 1. Agronegócio: definições e estado da arte no Brasil

Segundo Davies & Goldberg (1957), o agronegócio é definido como a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas unidades agrícolas; e o armazenamento, o processamento e a distribuição dos produtos agrícolas, e itens produzidos com eles.
Nessa abordagem, a agropecuária é apresentada como o núcleo do sistema agroindustrial que é interligado com setores a montante, responsáveis pelo provimento de insumos e de máquinas e implementos para a produção agropecuária, e com setores a jusante, responsáveis pelo processamento, pela transformação da produção agropecuária (agroindústria) e pela distribuição (comercialização, armazenagem e transporte) das produções agropecuária e agroindustrial, além de outros serviços associados ao agronegócio.

Como lembram Araújo Neto e Costa (2005), com a evolução da agropecuária, observou-se um crescimento das operações para fora da porteira, incluindo uma ampliação da participação de produtos não rurais em seu conjunto de insumos (adubos e fertilizantes inorgânicos, defensivos etc.), além da elevação e aperfeiçoamento das operações de processamento e transformação da produção rural para somente depois direcioná-la à demanda final. Os autores ressaltam a importância da tecnologia dos processos produtivos para as produções agropecuária (incluem-se aí, a utilização de tratores, implementos agrícolas, ferramentas etc.) e agroindustrial (incluindo centros de processamento, abatedouros industriais, packinghouses etc.), dos instrumentos de financiamento à produção (serviços financeiros), das atividades de pesquisa e desenvolvimento, além das atividades de comercialização, armazenagem e transporte dos produtos rurais e agroindustriais.A Figura 1 apresenta de maneira esquemática o conceito do agronegócio.

Figura 1
Uma representação esquemática do Agronegócio

CAPITULO-7-0

Fonte: Adaptado de Farina e Zylberstajn (1997).

O cálculo da participação do agronegócio no PIB é complexo e requer enorme esforço metodológico e empírico. Nunes e Contini (2001) oferecem uma robusta abordagem, com base nos conceitos das Contas Nacionais, para a mensuração do que eles denominam “complexo agroindustrial” ou agronegócio brasileiro, conceito análogo ao de agribusiness já abordado anteriormente, baseado em Davis e Goldberg (1957). Nunes e Contini (2001) chegam ao resultado da participação do agronegócio de 20,6% no PIB brasileiro para o ano de 1996. Esse foi um dos primeiros esforços de mensuração do agronegócio brasileiro.

Mais recentemente, PIB do agronegócio no Brasil tem sido regularmente calculado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – ESALQ/USP), com o apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Os dados da série contemplam o período de 1994 a 2011 e os componentes do PIB do agronegócio são subdivididos em insumos, agropecuária, indústria e distribuição (gráfico 1).

 

Gráfico 1
PIB do Agronegócio Brasileiro no PIB do Brasil entre 1994 e 2011

CAPITULO 7-1
Fonte: Cepea-USP/CNA.

Interessante notar que entre 1994 e 2011, o peso do agronegócio no PIB cai de 26,4% para 22,91%. A agropecuária, indústria e distribuição caíram em participação, mas os insumos se mantiveram constantes no período, o que sugere que a estrutura de custos aumentou, o que requer aumentos de produtividade para compensar a perda de rentabilidade na produção.

Os dados do Gráfico 1 apontam que os segmentos de indústria e distribuição têm maior peso na contribuição do agronegócio. Segundo dados do Cepea, a contribuição do agronegócio representou 22,9% do PIB do Brasil em 2006, sendo que a agropecuária, segmento primário, contribuiu com 5,4%. Os segmentos de indústria e distribuição tem participação mais expressiva, respectivamente de 7,6% e 7,5%, enquanto insumos contribuem com 2,3%.

Em termos do peso dos componentes do agronegócio, destacam-se a indústria e a transformação, conforme o gráfico 2, que apresenta os dados para o ano de 2006.

Gráfico 2
Peso dos componentes do PIB do agronegócio. Brasil: 2006

CAPITULO 7-2

Fonte: Adaptado de Cepea-USP/CNA.

Em que pese a agropecuária tenha peso menor que a indústria e a transformação, a literatura reconhece que esta atividade é o “motor do agronegócio”, gerando efeitos de transbordamento para os setores fornecedores de insumos tecnológicos, bem como para a industrialização e a comercialização de seus bens.Nesse sentido, a agropecuária é apresentada como o núcleo do sistema agroindustrial.
Com efeito, a próxima seção busca evidenciar os condicionantes que permitiram os incrementos na atividade agropecuária, notadamente a partir de 1970. São eles de ordem estrutural/ institucional e macroeconômica/ conjuntural.

2. Condicionantes institucionais e macroeconômicos da evolução da produtividade agropecuária no Brasil

As causas da modernização e dos incrementos de produtividade são majoritariamente de natureza estrutural, nesse caso, têm a ver com a adoção de tecnologias e práticas de manejo mais modernas, bem como de causas referentes às distintas conjunturas econômicas vivenciadas pelo Brasil desde os anos 1980. A conjuntura pode afetar a rentabilidade do produtor, o que pode explicar acréscimos de produção e produtividade, mas não parece ser preponderante. Nesta seção serão apresentados brevemente os condicionantes institucionais e macroeconômicos que podem explicar

2.1. Como era antes: agropecuária atrasada e refratária às inovações

A partir da década de 1940, e com maior intensidade nas décadas seguintes, o setor urbano brasileiro intensifica o seu processo de expansão, como efeito do aumento do setor industrial e do setor de serviços. Em função destes fatos, tem-se uma elevação da demanda por produtos agropecuários, pois esta mudança estrutural na economia do país acarreta o deslocamento das pessoas do campo para a cidade. Esta parte da população, que migra para as cidades, deixa de produzir alimentos e passa a requerer que a população restante no campo a alimente nas cidades. Daí surge a necessidade de expansão da produção agropecuária para atender às necessidades emergentes.

Esta expansão pode ser realizada basicamente de duas formas: em um caso pode-se optar pela expansão da fronteira agropecuária; no outro, o caminho a ser seguido requer a utilização de maior nível tecnológico na produção, ou seja, a utilização de insumos modernos e práticas adequadas ao cultivo.

A opção até os anos 1960 praticamente reduziu-se à expansão da fronteira agrícola, construindo estradas e infraestrutura. É a partir dos anos 1970 que o governo federal começa a investir em geração de conhecimento e difusão de tecnologia. Como ressaltam Alves e Contini (1992) a extensão da fronteira agrícola brasileira retardou muito os investimentos em ciência e tecnologia, a fim de se garantir um aumento sustentado da produtividade da terra.

Brandão (1992) afirma que o crescimento da produção agrícola brasileira até o final da década de 1970 pode ser considerado satisfatório, porém o mesmo não pode ser dito em relação ao índice tecnológico da agricultura. Comparativamente a outros países, a produtividade média era muito baixa, refletindo, em grande medida, a pouca importância dada pelos vários governos brasileiros aos investimentos em pesquisa e tecnologia agropecuárias. A partir de meados da década de 1970 começa-se a observar uma mudança nesta mentalidade, com o país passando a investir mais recursos tanto na pesquisa propriamente dita, quanto no treinamento de pesquisadores.

2.2. Condicionantes estruturais e institucionais para a modernização da agropecuária brasileira

Alves e Contini (1992) indicam que o crescimento da produtividade – em oposição ao crescimento de área – é a alternativa de custo mais barata para que o setor possa responder às demandas que recaem sobre ele. Nos anos 1970 foram tomadas decisões políticas que levaram à criação de instituições especializadas em geração de conhecimento e tecnologia em ciências agrárias, que somadas às políticas favoráveis de crédito, possibilitaram o avanço técnico e produtivo. Sobre esses aspectos ressaltam Redin e Fialho (2009: p. 2):

 O interesse em impulsionar a agricultura com técnicas consideradas modernas perante aos métodos usuais da agricultura foram apoiados com um aparato de políticas que incentivaram a adoção de tais implementos agrícolas. O crédito amplamente liberado favoreceu que os agricultores patronais se apropriassem de tais instrumentos que possibilitou um avanço significativo em termos de produção. Esse processo conhecido como modernização da agricultura condicionou na melhoria dos meios de produção induzido pela intervenção do governo na produção de produtos de apelo do mercado.

Segundo Alves e Contini (1992) há dois processos de geração de conhecimento e tecnologia na área da agricultura. O que os separa é a presença ou não de pesquisa organizada, de iniciativa pública ou privada. Segundo os autores, só a partir dos anos 1970 é que se compreendeu melhor o papel da modernização da agricultura no Brasil.

 A mudança de rumos, de forma mais sistemática, é do inicio dos anos 70, quando se consolidaram federal e estadualmente, as instituições de ensino (mormente a nível de pós-graduacão), pesquisa, extensão rural e os instrumentos de política econômica, destinados a incrementar a produtividade da agricultura. (Alves e Contini, 1992: p. 61)

Sousa (1987) apresenta a experiência referente à difusão de tecnologia para o setor agropecuário no Brasil. Segundo o autor, as mudanças de base técnica da agricultura foram viabilizadas por três importantes fatores a partir de meados dos anos 1960 e do início dos anos 1970: 1) o fechamento das fronteiras agrícolas nas regiões urbanizadas; 2) a criação, em 1965, do Sistema Nacional de Crédito Rural; 3) a integração crescente da agricultura com a indústria produtora de insumos e bens de capital, por um lado, e com a indústria processadora de produtos agropecuários, por outro. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) é criada em 1972 e instalada e começa a operar em 1973.

Outro elemento importante no processo de modernização agrícola tem a ver com o comportamento do setor de insumos agrícolas. Como lembram Mendonça de Barros e Manoel (1992), no contexto da estratégia de modernização o incentivo dado à substituição de importações por meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974/79), acabou por favorecer, de forma determinante, o setor de insumos agrícolas.

O eixo central desta estratégia foi a expansão a taxas crescentes do crédito rural subsidiado destinado à aquisição de insumos modernos, aliado a um processo intenso de substituição de importações, tanto na área mecânica, quanto na área química de insumos agrícolas. (Mendonça de Barros e Manoel, 1992: p. 297)

A seguinte passagem de Sousa (1987: p. 192): sintetiza as mudanças que visavam ao aumento da produtividade por meio da adoção de tecnologias:

 Viabilizado pelo Estado, forma-se, assim, durante a década de 70, novo bloco de interesses rurais (na verdade agroindustriais), em que a linguagem comum é o aumento da produção agropecuária via aumento da produtividade. Nessa coligação agropecuária, formada pelo grande capital industrial, pelo Estado, e pelos grandes e médios proprietários rurais, a geração, difusão e adoção de tecnologias são peças essenciais para o objetivo que se perseguia: o aumento da produtividade agropecuária.

O ajuda estatal ao segmento agropecuário, importante para a coligação supracitada, apresentou sinais de esgotamento na segunda metade dos anos 1980. Segundo Barros et al. (2006) a ajuda para o agronegócio e para outros setores praticamente encerrou-se em meados dos anos 1980, quando os recursos públicos se esgotaram e a onda de liberalização econômica atingiu com atraso a América Latina e o Brasil, em particular.Em 1980, as aplicações da União na agricultura correspondiam a 8% do orçamento, cifra que também vigorou em 1988. Já em 1989, a cifra caiu para 2%, que se repetiu também em 2005.

Para os autores, a partir de 1989, sem ajuda governamental, houve grande aumento da produtividade até 2005. A partir de dados do IBGE, o autor identifica que a produção física de alimentos expandiu 68% enquanto a população cresceu 27%. Isso significa que a disponibilidade per capita de alimentos para os brasileiros cresceu substancialmente. O aumento médio de produtividade agrícola de cerca foi de 2,6% ao ano e para a pecuária em torno de 4% ao ano.

A evolução das variáveis macroeconômicas é bastante importante para o comportamento do produtor, em particular o agropecuário. Com efeito, a evolução do câmbio e do preço das commodities é de crucial importância na avaliação das causas do incremento da produtividade, que se devem parcialmente à perda da rentabilidade de algumas culturas. A próxima seção cuida desse tema.

2.3.Condicionantes macroeconômicos para a modernização da agropecuária brasileira

Dentre as variáveis macroeconômicas que mais influenciaram a evolução do agronegócio brasileiro nas últimas décadas destacam-se o câmbio e o preço das commodities. No período anterior a 1994, certamente a inflação era um elemento importante para a tomada de decisão no âmbito econômico, em particular na agropecuária.

O gráfico 3 apresenta a evolução da taxa de câmbio real, deflacionada pelo INPC, utilizada como referência para as exportações. Levando em conta que uma das fontes de dinamismo foi a demanda externa, em particular pelo elevado crescimento da China e demais BRICs.

Gráfico 3
Taxa de câmbio efetiva real (INPC)– exportações – índice (média 2005 = 100)

CAPITULO 7-3

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Entre 1980 e 2006 a taxa de câmbio real apresenta uma tendência de crescimento, estimulada especialmente a partir dos anos 2000. Nesse sentido, para o período como um todo, o câmbio real aparentemente atuou com fator positivo e impulsionador do agronegócio brasileiro. No entanto, para um período de tempo razoavelmente próximo ao deste trabalho, entre 1994 e 2009, Homem de Melo (2010) sugere que a variação do câmbio real não permitiu que se concluísse para o período de 1994 a 2009 que a variável taxa de câmbio tenha sido favorável à rentabilidade agrícola e à expansão da produção. Houve, segundo o autor, um período melhor entre 1999 e 2004, mas antes e depois desse intervalo o câmbio teria atuado negativamente.

Outra variável importante de cunho macroeconômico é a demanda externa. Nesse caso, a literatura aponta a relevância, sobretudo do efeito China e, em menor escala, dos demais BRICs (Rússia e Índia ). O rápido crescimento da China desde meados dos anos 1980 alterou de maneira substancial a geografia econômica global, bem como o perfil de demanda por matérias primas (CEPAL, 2011).
Homem de Melo (2010) ressalta que o crescimento econômico mundial passou a ser mais dependente do maior crescimento econômico dos países emergentes (BRICS e outros), o que alguns analistas chamam de “efeito China”. Isso altera de modo estrutural o mercado internacional, através de uma taxa de crescimento maior das respectivas demandas internas e das importações de grãos, carnes e outros produtos nesses países. o Gráfico 4, aponta uma importante recuperação no preço das commodities a partir dos anos 2000.

Gráfico 4
Commodities – carnes e grãos, oleaginosas e frutas – preço – índice (jan. 2002 = 100)

Tabela 1 - Confronto dos resultados dos dados estruturais dos Ce

Fonte: IPEADATA.

A Funcex calcula a rentabilidade das exportações agropecuárias. O Gráfico 5, aponta uma clara tendência de redução da rentabilidade das exportações dos produtos oriundos da agropecuária. É verdade que na segunda metade dos anos 1980 houve brusca redução do índice, que gozou de relativa estabilidade nos anos 1990 e voltou a cair apenas em meados dos anos 2000[1].

Gráfico 5:Exportações da agropecuária – rentabilidade – índice (2003.III = 100)

Fonte: Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), séries antigas.

Num cenário em que a rentabilidade das exportações não é tão positiva, o aumento da produtividade tornou-se o caminho natural para a obtenção de maior rentabilidade para a produtor brasileiro. Esse é o foco na seção três.

3.Evolução da produtividade da atividade agropecuária no Brasil

 3.1. A literatura sobre a Produtividade Total dos Fatores

A produtividade total dos fatores (PTF) é interpretada como o aumento da quantidade de produto que não é explicada pelo aumento da quantidade dos insumos, e sim pelos ganhos de produtividade destes. A PTF mede a relação entre o produto total e o insumo total (Gasques et al., 2010)[2].

A produtividade total dos fatores para o Brasil apresenta trajetória crescente entre 1970 e 2006. Em nenhum dos períodos considerados a PTF apresenta queda do índice. Isso leva à conclusão que a agricultura tem crescido de maneira continuada. Houve no período um crescimento de 124%. O índice de produto variou 243% no período. O índice de insumos cresceu 53% entre os dois pontos de comparação. Nota-se que enquanto o produto da agricultura, que é uma combinação da produção vegetal, pecuária e agroindústria rural, cresceu 243% entre 1970 e 2006, o uso de insumos cresceu 53%.Esse resultado mostra que o crescimento da agricultura brasileira tem-se dado com base na produtividade principalmente (Gasques et al., 2010).

Gasqueset al. (2008) chegam a conclusões parecidas para o período de 1975 e 2005, antes da divulgação do censo agropecuário de 2006. De acordo com os autores, no Brasil, o aumento do uso de insumos vem ocorrendo primeiramente em virtude do aumento do uso de capital sob a forma de máquinas automotrizes, bem como em razão do uso crescente de fertilizantes. A utilização de mão-de-obra tem apresentado tendência decrescente ao longo do período analisado. O índice estimado da quantidade de mão-de-obra passou de 100, em 1975, para 98 em 2005. Já o índice de quantidade de terra, esse passou de 100 para 143; e o índice da quantidade de capital passou de 100 para 171. Isso mostra uma tendência crescente do uso de capital e de terra na agricultura nos últimos anos.
No que tange aos insumos, dados de Homem de Mello (2010) evidenciam que a utilização de fertilizantes (princípio ativo) passou de 3,3 milhões de toneladas em 1989 para 12,2milhões em 2008.
A Tabela 1 apresenta as fontes de crescimento da agricultura brasileira.

Tabela 1
Fontes de crescimento da agricultura brasileira

1975-2005

1980-1989

1990-1999

2000-2005

Taxa anual de crescimento (%)
Crescimento do produto

3,50

3,38

3,01

5,99

Fontes de crescimento do produto
INSUMOS

0,96

1,49

0,35

2,03

Produtividade do trabalho

3,56

3,2

3,11

5,81

Produtividade do capital

2,38

1,28

3,14

4,67

Produtividade da terra

2,59

2,64

2,06

3,26

PTF

2,51

1,86

2,65

3,87

Fonte: Gasques et al. (2008).

Segundo Gasques, Bastos e Bacchi (2009) são várias as evidências que relacionam aumentos da PTF aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Os autores apresentam os gastos com P&D entre 1975 e 2006 feitos pela EMBRAPA. Os desembolsos anuais passaram, a preços de 2006, de R$ 271 milhões para R$ 1,061 bilhões em 2006, desde meados dos anos 2000 os desembolsos superam ou ficam em torno de R$ 1 bilhão. Gasques, Villa Verde e Oliveira(2004) mostraram, por meio da utilização de modelos de séries temporais, que o aumento de 1% nos gastos em P&D, pela Embrapa, tem um impacto de 0,17% na PTF.

3.2 Um olhar adicional no Censo Agropecuário de 2006

Os dados do Censo Agropecuário permitem uma análise estrutural da evolução da agropecuária brasileira. A tabela 2 realiza o confronto dos resultados dos dados estruturais dos Censos Agropecuários de 1980 a 2006.

Tabela 2
Confronto dos resultados estruturais dos Censos Agropecuários 1980/2006 — Brasil 2006

Dados estruturais

1980

1985

1995-1996

2006

Estabelecimentos

 5.159.851

 5.801.809

 4.859.865

 5.175.636

Área total (ha)

 364.854.421

 374.924.929

 353.611.246

 333.680.037

Utilização das terras (ha)
Lavouras permanentes (1)

 10.472.135

9.903.487

 7.541.626

 11.679.152

Lavouras temporárias (2)

 38.632.128

42.244.221

 34.252.829

 48.913.424

Pastagens naturais

 113.897.357

105.094.029

 78.048.463

 57.633.189

Pastagens plantadas (3)

 60 602 284

74 094 402

 99.652.009

 102.408.873

Matas naturais (4)

 83 151 990

83 016 973

 88 897 582

 95 306 715

Matas plantadas

 5 015 713

5 966 626

 5 396 016

 4 734 219

Pessoal ocupado

 21 163 735

23 394 919

 17 930 890

 16 568 205

Tratores

  545 205

665 280

  803 742

  820 718

Fonte: Adaptado de IBGE (2012).
(1) Nas lavouras permanentes, somente foi pesquisada a área colhida dos produtos com mais de 50 pés em 31.12.2006;
(2) Lavouras temporárias e cultivo de flores, inclusive hidroponia e plasticultura, viveiros de mudas, estufas de plantas e casas de vegetação e forrageiras para corte em 31.12.2006.
(3) Pastagens plantadas, degradadas por manejo inadequado ou por falta de conservação, e em boas condições, incluindo aquelas em processo de recuperação em 31.12.2006.
(4) Matas e/ou florestas naturais destinadas à preservação permanente ou reserva legal, matas e/ou florestas naturais e áreas florestais também usadas para lavouras e pastoreio de animais em 31.12.2006. 

Em síntese, pode-se concluir da tabela 2 que:

  1. O número médio de estabelecimentos se manteve constante e a área total em hectares caiu 9,3%
  2. A utilização das terras cresce fortemente influenciada pelas matas plantadas, com taxa de crescimento de 70% no período de 1980 e 2006;
  3. Há uma queda substancial das pessoas ocupadas no período, da ordem de 21%;
  4. Há um importante crescimento do número de tratores, na ordem de 50% no período.

Em consequência, pode-se dizer que para responder à crescente produção da lavoura e da pecuária houve forte crescimento da produtividade da terra, do trabalho e do capital.

O aumento do uso do capital tem como um dos indicadores a evolução da área média de lavoura por trator em hectares. O gráfico 6 aponta um número maior de tratores por área média de lavoura.

Gráfico 6
Evolução da área média de lavoura por trator (hectares). Brasil: 1980 a 2006

Cap7-graf6 (1)
Fonte: Adaptado de IBGE (2012).

No caso da pecuária, a evolução da área média de pastagem por cabeça de bovino tem sido reduzida, o que indica, que embora ainda muito extensiva, a tendência se mostra a um aumento no número de bovinos por área de pastagem.

Gráfico 7
Evolução da área média de pastagem por cabeça de bovino. Brasil: 1980 a 2006

CAPITULO 7-5

Fonte: Adaptado de IBGE (2012).

A tabela 3 apresenta o número de estabelecimentos e a área dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total. Desde 2006, em todos os estratos há redução do número de estabelecimentos. A menor redução é dos grandes estabelecimentos, de 1000 ha ou mais.

Tabela 3
Número de estabelecimentos e área dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total — Brasil (1980/2006)

Grupos de área total

1980

1985

1995

2006

Menos de 10 ha

2.598.019

3.064.822

2.402.374

2.477.151

10 a menos de 100 ha

2.016.774

2.160.340

1.916.487

1.971.600

Menos de 100 ha

4.614.793

5.225.162

4.318.861

4.448.751

100 a menos de 1000 ha

488.521

517.431

469.964

424.288

1000 ha e mais

47.841

50.411

49.358

47.578

Fonte: IBGE (2012).

De acordo com a Tabela 3, as diferenças verificadas na área dos estabelecimentos agropecuários, quando comparados os diferentes estratos fundiários, continuam a caracterizar a manutenção da desigualdade na distribuição da terra no País nos últimos Censos Agropecuários. Neste sentido, enquanto os estabelecimentos rurais de menos de 10 ha ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais nos três últimos Censos Agropecuários – 1985, 1995-1996 e 2006 –, a área ocupada pelos estabelecimentos de mais de 1000 ha concentram mais de 43,0% da área total nestes anos (IBGE, 2012).

3.3  Evolução da produtividade de alguns produtos selecionados

Com base no Censo Agropecuário, é possível analisar o aumento da produtividade por produtos selecionados. Em consonância com o que já foi abordado em seções anteriores, vale a pena focalizar alguns produtos importantes para o agronegócio brasileiro. A Tabela 4 apresenta a evolução da produtividade para alguns produtos importantes para a agropecuária brasileira.

Tabela 4
Produção vegetal e Área colhida dos estabelecimentos agropecuários por tipo de produção vegetal – série histórica (1980/2006)

Tipo/ano

1980

1985

1995

2006

Algodão em caroço
Produção vegetal (Toneladas)

1.170.597

2.178.455

814.188

2.491.582

Área colhida (Hectares)

1.044.457

2.048.772

619.627

859.042

Produtividade (t/ha)

1,12

1,06

1,31

2,90

Cana-de-açúcar
Produção vegetal (Toneladas)

139.584.521

229.882.037

259.806.703

407.466.570

Área colhida (Hectares)

2.603.292

3.798.117

4.216.427

5.682.376

Produtividade

53,62

60,53

61,62

71,71

Milho em grão
Produção vegetal (Toneladas)

15.722.581

17.774.404

25.510.505

41.427.611

Área colhida (Hectares)

10.338.592

12.040.441

10.602.139

11.604.043

Produtividade

1,52

1,48

2,41

3,57

Soja em grão
Produção vegetal (Toneladas)

12.757.962

16.730.087

21.563.768

46.195.842

Área colhida (Hectares)

7.783.706

9.434.686

9.479.893

17.883.318

Produtividade

1,64

1,77

2,27

2,58

Fonte: Adaptado de IBGE (2012).

Todos os produtos obtiveram expressivos ganhos de produtividade entre 1980 e 2006, com destaque especial para o milho, que experimentou um incremente de 1,52 toneladas por hectare para 3,57 toneladas por hectare.

A soja, um dos produtos líderes da exportação do agronegócio, teve aumento de 1,64 para 2,58 toneladas por hectare. Como ressalta o IBGE (2012), com o objetivo de reduzir os custos de produção, os produtores brasileiros optaram pelo cultivo da soja transgênica no Brasil, tanto que dos 217.015 estabelecimentos agropecuários que cultivaram soja em 2006, 46,7% utilizaram sementes geneticamente modificadas, que foram cultivadas em cerca de 4,1 milhões de hectares. Também foi utilizada uma grande quantidade de semente certificada (44,8%) e em 96,7% da área a colheita foi realizada de forma totalmente mecanizada (IBGE, 2012).

Para o caso brasileiro, no que tange ao preço das commodities agrícolas, vale a pena segmentar a análise por alguns dos principais produtos exportados pelo país, a saber, a carne bovina, carne de frango, a soja em grão, o milho, o algodão e o açúcar.

O gráfico 8 apresenta a evolução dos preços da carne bovina e da carne de frango entre 1980 e 2006. No período como um todo, o comportamento dos preços tem tendências distintas. Há uma tendência decrescente do preço da carne bovina, em que pese seja visível uma recuperação em meados dos anos 1990. Em relação à carne de frango, a tendência é claramente positiva, o que se coaduna com o vertiginoso crescimento da demanda de carne de frango nas últimas décadas.

Gráfico 8
Evolução dos preços (em cents/kg) da carne bovina e de frango entre 1980 e 2006

CAPITULO 7-6
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.

 

Em relação aos principais grãos exportados pelo país, soja e milho, a evolução dos preços é declinante, no período de 1980 e 2006 (gráfico 9). No caso da soja, a partir dos anos 2000 há uma tendência de recuperação, fortemente explicada pela demanda da China. O preço do milho apresenta uma evolução mais suave no período.

Gráfico 9
Evolução dos preços (em $/mt) da soja em grão e do milho entre 1980 e 2006

Cap7-graf9
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.

Segundo o IBGE (2012), em 2006, o milho foi cultivado em cerca de 2,0 milhões de estabelecimentos agropecuários,que produziram 41,4 milhões de toneladas em 11,5 milhões de hectares,alcançando 11,4 bilhões de reais. Analisando os anos 2000, período em que o milho apresentou maior crescimento, observa-se que a cultura teve grandes incrementos de produtividade (46,2%), bem superior à da soja (10,6%). O aumento da produtividade, juntamente com o aumento de 11% na área colhida, proporcionou um crescimento de 62,3% na produção nacional de milho. No que diz respeito à tecnologia utilizada, verificou-se que em 27,8% dos estabelecimentos foram utilizadas sementes certificadas para o cultivo, que foram responsáveis por 77,5% da produção nacional. A colheita totalmente mecanizada foi realizada em 8,8% dos estabelecimentos, que produziram 64,2% da produção do País. Algum tipo de adubação foi realizada em 37% dos estabelecimentos, que produziram 85,3% da produção nacional.

Apesar de apresentar uma tendência de queda no período estudado, o preço do açúcar desde o início dos anos 1980 tem apresentado oscilações com comportamento pouco volátil. Excetuando a brusca queda nos anos de 1980 e 1981, desde então o preço do açúcar apresenta uma trajetória cíclica de baixa oscilação, com tendência de elevação a partir dos anos 2000 (gráfico 10).

 Gráfico 10
Evolução dos preços (em cents/kg) do açúcar entre 1980 e 2006

CAPITULO 7-8

 

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.

A cana-de-açúcar no Brasil é uma cultura cresceu permanentemente.  A cultura experimentou um vigoroso crescimento com a criação do Programa Nacional do Álcool — Proálcool em 1975,que tinha como objetivo estimular a produção do álcool, através da cana-de-açúcar,visando à substituição em larga escala dos derivados de petróleo, que tinham alcançado altos preços. Com o início do programa, em 10 anos, a produção nacional de cana-de-açúcar passou de 80,0 milhões de toneladas para 229, 9 milhões de toneladas. A partir de 1986, começa uma fase de estagnação, pois o cenário internacional do mercado petrolífero é alterado e o preço do barril do óleo bruto caiu abruptamente (IBGE, 2012).

O algodão apresenta clara tendência de queda de preços entre 1980 e 2006, atingindo os menores patamares nos anos 2000 (gráfico 11).

 Gráfico 11
Evolução dos preços (em cents/kg) do algodão entre 1980 e 2006

CAPITULO 7-9

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.

O gráfico 12 apresenta a evolução da exportação em quantum de soja em grão e de farelo de soja. Note que a taxa de crescimento da exportação da soja em grãos ultrapassa em muito a taxa de crescimento do farelo de soja. A demanda externa aparece como forte condicionante para a produção de soja no Brasil no período estudado, uma vez que se trata do principal mercado para o produto.

Gráfico 12
Evolução da exportação de soja em grão e farelo de soja (toneladas). Brasil: 1980-2006

Cap7-graf12
Fonte: IPEADATA.

A cana-de-açúcar também apresenta importantes ganhos de produtividade entre 1980 e 2006, passando de 53,62 para 71,71 toneladas por hectare. As exportações de açúcar cresceram expressivamente do período (gráfico 13).

 Gráfico 13
Evolução da exportação de açúcar (toneladas). Brasil: 1980-2006

Cap7-graf13
Fonte: IPEADATA.

Em relação ao complexo das carnes, evidencia-se um peso enorme da demanda externa, que contribuiu para um aumento real das exportações, tal como apresentado na tabela 5.

Tabela 5
Produção e exportação de carcaça bovina, suína e de frangos e participação da exportação na produção – Brasil – 1996/2006

Espécie

1996

2006

Produção (t)

Exportação

(t)

Participação

(%)

Produção (t)

Exportação

(t)

Participação

(%)

Bovina

4.053.178

46.656

1,15

6.886.583

1.225.413

17,79

Suína

1.240.182

55.735

4,49

2.298.242

484.217

21,07

Frango

2.896.933

568.794

19,63

8.164.003

2.585.713

31,67

Fonte: IBGE (2012).

A participação das exportações de carne bovina na produção nacional de carcaça passou de 1,2%, em 1996, para 17,8% (tabela 5) com a ampliação de volume exportado e a conquista de novos mercados, o mesmo ocorrendo com a carne suína e de frango.

Os dados do gráfico 14 apontam que o que está por trás da evolução e da exportação das carnes não foi a rentabilidade das exportações. Há uma queda importante segundo os dados da Funcex para o período de 1985 a 2006.

Gráfico 14: Exportações – setor: abate de animais – rentabilidade – índice (2003.III = 100) – determinado –

CAPITULO-7-14
Fonte: Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex)

Nesse caso, o que explica as exportações é o aumento real da demanda, que trás consigo necessidade de aumento da oferta de carne e, consequentemente, da produtividade.

Os dados do Censo Agropecuário 2006 refletiram as mudanças ocorridas no setor a partir do fim da década de 1990, com a reestruturação da cadeia produtiva de carnes, a adoção de tecnologias e uma maior profissionalização que culminaram com a liderança brasileira no mercado internacional de carnes de frango e bovina, sendo ainda o quarto maior exportador mundial de carne suína em 2006.

Por fim, pode-se analisar o impacto para os dados agregados do agronegócio. No que tange ao comercio exterior referente ao agronegócio brasileiro, a evolução a partir de 1989 foi muito positiva (gráfico 15). O expressivo crescimento das exportações (de US$ 13,9 para US$ 49,5 bilhões) respondeu pelo importante crescimento do saldo comercial (quase 300% no período), uma vez que as importações cresceram, mas a taxas bem menores (de US$ 3,1 para US$ 6,7).

Gráfico 15: Evolução da balança comercial do agronegócio brasileiro: 1989 a 2006

Cap7-Graf15
Fonte: Adaptado de Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC.

Dos condicionantes macroeconômicos analisados pode-se afirmar que a demanda externa atuou de forma positiva para o agronegócio brasileiro. Em relação ao câmbio, não é possível concluir, ainda que os dados sugiram que para certos períodos foi positivo e para outros, negativos. Já em relação aos preços das commodities agrícolas analisadas, excetuando a carne de frango, as demais apresentaram tendência de queda nos preços, atenuadas parcialmente a partir dos anos 2000.

A tabela 6 oferece uma síntese do impacto dos fatores condicionantes do aumento da produtividade agropecuária no Brasil a partir de 1980.

 Tabela 6: Síntese do impacto dos fatores condicionantes do aumento da produtividade agropecuária no Brasil a partir de 1980.

Embrapa Sem dúvida, um dos maiores responsáveis para a difusão tecnológica na agropecuária brasileira.
Crédito Muito importante até o final dos anos 1980.
Câmbio Positivo ou negativo dependendo da na análise de subperíodos.
Preço das commodities Em geral decrescentes, porém com recuperação a partir dos anos 2000.
Rentabilidade Em geral decrescente, com algumas compensações de ordem conjuntural (câmbio e preços) e estrutural (Lei Kandir)
Demanda externa Efeito China muito importante para aumento real (quantum) das exportações agropecuárias brasileiras.
Fonte: Elaboração própria.

4.Conclusão

Este trabalho buscou evidenciar o processo de modernização do agronegócio no Brasil, com especial ênfase nos expressivos ganhos de produtividade no segmento agropecuário, tido como núcleo central do agronegócio.

As raízes dessa modernização têm origem nos anos 1970. Viabilizado e capitaneado pelo Estado, emergiu um bloco de interesses agroindustriais, o qual permitiu a adoção de tecnologias a práticas mais modernas no manejo agropecuário. A consequência desse processo foi o notável incremento de produtividade da maioria das culturas importantes na agropecuária brasileira. A EMBRAPA cumpriu e cumpre papel relevante na geração e difusão das tecnologias agropecuárias.

Os fatores macroeconômicos são importantes, pois, ao afetarem a rentabilidade do produtor, podem força-lo a incrementar a produtividade para compensar eventuais perdas decorrentes do preço e do câmbio. No que tange a essas duas variáveis, salvo em alguns subperíodos, não é possível concluir que elas afetaram positivamente a rentabilidade agropecuária entre 1980 e 2006. Há impactos positivos e negativos, dependendo do estrato do período estudado.

Nesse sentido, os fatores de ordem estrutural e institucional ganham peso na explicação da modernização do setor no período estudado, particularmente por esforços feitos na década anterior, 1970. Não menos importante é o comportamento da demanda externa, que sugeriu, nos últimos anos, um “um desenvolvimento voltado para fora” da agropecuária brasileira.

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  1. Uma importante alteração institucional que contribuiu para o agronegócio foi a Lei Kandir de 1996 ao isentar as exportações agrícolas da tributação do ICMS, significando um aumento de 15-20% nos preços aos produtores (Homem de Melo, 2010).
  2. Este trabalho não detalhará os aspectos da formalização matemática dos índices, apenas os resultados dos estudos. Para aprofundar na literatura de PTF, ver Jorgenson (1996) e Christensen (1975).

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